A defesa de Lourival Correa Netto Fadiga, o Gordo ou Fatica, réu no Caso Anic Peixoto Herdy, afirmou nesta terça-feira (24) que “o mandante do assassinato é Benjamin Herdy, marido de Anic”. “Benjamin determinou a morte desde o mês de janeiro, e o sequestro foi uma forma de encobrir esse crime”, afirmou a advogada Flávia Froes.
“Todo o plano foi forjado por ambos, e só não deu certo porque a filha de Benjamin gravou uma conversa dela com Benjamin e Lourival, em que ela estranha o crime”, prosseguiu.
“Durante todo o período do falso sequestro, Benjamin e Lourival estiveram juntos. As antenas dos celulares de Lourival e Benjamin vão provar que ambos estavam no mesmo lugar e fizeram tudo juntos”, acusou.
“Lourival utilizou o telefone da Rebecca para se movimentar, e manda a mensagem de Guapimirim para Benjamin após o assassinato.”
Nenhum indício, diz delegada
Delegada que coordenou as investigações, Cristiana Onorato Miguel disse que nada foi encontrado contra o marido de Anic.
“Ao contrário do telefone do Lourival, que foi totalmente apagado por ele, o telefone do Benjamim foi periciado e vasculhado de ponta a ponta. Nenhum indício nesse sentido foi encontrado”, afirma.
Carta-confissão
A advogada também apresentou uma carta supostamente escrita por Lourival da cadeia, nesta segunda (23), em que apresenta a confissão.
“Eu, Lourival C. N. Fatica, declaro que o Benjamin Cordeiro Herdy me mandou matar sua esposa, Anic Herdy, e que a compensação financeira é mera cortina de fumaça.”
Motivações
Sobre a motivação do crime, a advogada Flávia Froes disse que “quem pode dizer é o próprio Benjamin”.
Ela afirma que a motivação de Lourival foi uma só: “Dinheiro. A motivação dele seria o pagamento no valor do próprio sequestro, R$ 4 milhões”, afirmou a advogada.
“Ele [Benjamin] sugeriu que Lourival assumisse o crime sozinho, e que ele iria fazer uma compensação financeira para sustentar a família do Lourival, mas eles não imaginavam que a filha [de Benjamin] não iria acreditar na versão de que a Anic fugiu com um policial”, disse a advogada de defesa de Lourival.
A defesa alega que câmeras de um Bradesco no Barra Shopping revelam o momento em que Lourival e Benjamin vão fazer um saque de R$ 15 mil.
O fato aconteceu no dia de cumprimentos de mandados de busca e apreensão nas casas de Lourival e Benjamin e indicaria uma conversa citada pela defesa, em que Lourival dizia que assumiria o crime sozinho.
Corpo será localizado
Segundo a defesa, Lourival matou Anic com um soco que quebrou o pescoço dela, dentro do Hotel Fujiyama, em Petrópolis.
Ainda segundo a defensora, “o corpo não foi queimado, está enterrado e concretado, na Região Serrana”. Lourival, em audiência na Justiça nesta quarta (25), “vai indicar o local onde está esse corpo”, afirmou Flávia Froes.
Em agosto, confissão
Em agosto, foi divulgado que uma delação premiada estava sendo negociada com o Ministério Público para revelar o nome de um suposto mandante do crime.
A advogada Flávia Froes afirmou que o local da morte da mulher vai passar por perícia, incluindo o uso de luminol para detectar o sangue de Anic, além de coleta do material genético da vítima. O corpo de Anic nunca foi encontrado.
Confissão de Lourival
No dia 30 de agosto, a defesa afirmou que o segurança confessou ter matado a advogada — até então, Lourival, seus 2 filhos e a amante eram investigados por extorsão mediante sequestro e pelo desaparecimento de Anic.
“Anic está morta”, declarou a advogada Flávia Fróes. “Ela foi morta desde o primeiro dia.”
Esse dia, segundo a defesa, foi o 29 de fevereiro, justamente quando Anic foi vista pela última vez em Petrópolis. Lourival está preso desde maio e já é réu pelo desaparecimento e extorsão.
A defesa diz que Anic era de fato amante de Lourival e foi com ele no dia da morte por espontânea vontade, então não houve sequestro, apenas o homicídio.
Segundo o MPRJ, as tratativas sobre uma delação estavam sendo efetuadas, “mas o MPRJ e a parte não chegaram a um acordo sobre os benefícios que poderiam ser aplicados ao caso concreto”. “Caso novas provas sejam apresentadas de maneira espontânea, serão validadas e, se for o caso, consideradas, fora do âmbito de uma colaboração premiada”.
A ação penal segue em curso perante a 2ª Vara Criminal.
Novas provas
Mas novas provas obtidas pela 105ª DP (Petrópolis) fizeram com que o MPRJ pedisse que os quatro réus por extorsão mediante sequestro e desaparecimento de Anic Peixoto Herdy também respondam pela morte da vítima.
Mensagens trocadas entre Gordo e Rebecca Azevedo dos Santos, apontada como amante dele, já revelavam indícios do assassinato.
A reportagem teve acesso ao aditamento à denúncia feito no dia 15 de agosto. Segundo o documento, Rebecca mandou uma mensagem para Lourival no dia 17 de março, 20 dias após o desaparecimento de Anic, no dia 29 de fevereiro. O caso foi revelado pelo Fantástico em maio.
Na mensagem, ela escreveu para o amante:
“Cinzas já estão passeando pelo rio”.
Lourival responde em seguida: “Muito bom”, acompanhado de uma figurinha de sorriso.
“A referida mensagem comprova a morte de Anic, sendo que seus restos mortais já estariam distantes da possibilidade de serem encontrados”, diz um trecho do aditamento à denúncia feito pelo promotor Paulo Yutaka Matsutani. O corpo da vítima nunca foi encontrado.
Prejuízo de R$ 4,6 milhões
Segundo o Ministério Público, o sequestro forjado de Anic rendeu R$ 4,6 milhões para Lourival, Rebecca e os dois filhos de Lourival, Maria Luísa e Henrique.
O valor foi pago pelo então marido de Anic, Benjamin Cordeiro Herdy, que deu o dinheiro do resgate da vítima sem saber que estava sendo vítima de extorsão por Lourival e seus comparsas, de acordo com as investigações. Lourival trabalhava para Benjamin e era tratado como um funcionário de confiança.
“Assim, coube ao denunciado Lourival a função de arquitetar todo o plano criminoso, contando com os demais denunciados para sua execução”, diz o promotor no documento.
O aditamento ainda cita a frequente comunicação entre os réus antes, durante e depois do sequestro e a exigência do pagamento de resgate, além da participação dos filhos de Lourival.
Henrique, filho de Lourival, recebeu U$ 175 mil, entregues através de um intermediário, em um dos momentos que Benjamin entregou dinheiro para pagar o suposto resgate da vítima. Foram pelo menos 40 depósitos, de acordo com as investigações.
O promotor lembrou também que as provas atestam que os réus compraram itens de luxo com o dinheiro do resgate, como um carro e uma moto, e que a filha de Lourival montou uma loja de celulares que teria sido criada especificamente para “lavar” o dinheiro obtido com o crime.
Investigações apontam que parte do dinheiro foi investida em criptomoedas. A quantia foi rastreada e devolvida à família de Benjamin Cordeiro Herdy. A lavagem de dinheiro será investigada pela Polícia Federal.
*Com informações do G1