O dia era 23 de fevereiro de 2024 e uma nota oficial publicada nas redes sociais do Goytacaz pegou todos de surpresa: o clube decidiu não disputar as competições oficiais daquele ano. O impacto foi grande e marcou o início de semanas sombrias para o futuro da instituição. Mas o dia 8 de junho simbolizou o recomeço. O processo de resgate começou pelo patrimônio mais importante do clube, a sua torcida. O abraço simbólico no Aryzão foi um recado, e o acesso para a Série B1 tornou-se mais uma entre várias barreiras vencidas em 2025.
O estádio Ary Oliveira e Souza foi reaberto uma semana depois, e as condições precárias do local assustaram a torcida alvianil. Além disso, inúmeros leilões estavam em andamento. A torcida organizou uma força-tarefa para proteger sua casa, desde o corte do gramado até a mobilização junto ao Conselho de Preservação do Patrimônio Arquitetônico Municipal (Coppam) para tombar o estádio e impedir sua demolição.
Com tantas histórias, a reportagem do Manchete RJ foi até o Aryzão conversar com o vice-presidente do clube, Leandro Nunes. Ele recebeu do presidente Sérgio Alves a missão de tocar o futebol profissional ao lado de Ricardo Bóvio, Pedro Zanon, Carlos Darcileu Amaral e Ralph Abu.

Montagem do elenco
A montagem do elenco alvianil priorizou jogadores locais. Se em um primeiro momento a estratégia causou estranheza na torcida, hoje ela é muito aplaudida. Mesmo estreando com uma derrota por WO para o Santa Cruz devido a um transfer ban, o Goytacaz avançou de fase e, nas semifinais, conquistou uma classificação heroica contra o Belford Roxo fora de casa.
Leandro destacou o trabalho de toda a diretoria, mas atribuiu a dois nomes o sucesso das escolhas: Ricardo Bóvio e Ralph Abu.
“Nós esticamos a corda até onde dava e, em determinado momento, achei que tínhamos ido além do limite, muito por causa das questões financeiras. Mas o Ricardo Bóvio, nosso diretor de futebol, e o Ralph Abu, coordenador, nos tranquilizaram a todo momento falando da qualidade dos atletas locais. Graças a Deus conseguimos o acesso”, afirmou.
Nomes como Lekinho, Arcado, Joe e Aranha caíram nas graças da torcida. Nesta semana, o atacante Yuri, que atua utilizando tornozeleira eletrônica, tornou-se assunto dentro e fora do país, reforçando que além do trabalho esportivo o clube também se tornou uma ferramenta de ressocialização.
Crise financeira
Com dívidas trabalhistas herdadas de gestões passadas, além da impossibilidade de contar com a torcida nos jogos, transfer ban e a necessidade de custear toda a temporada, a diretoria do Goytacaz arregaçou as mangas para honrar todos os compromissos da Série B2 e teve sucesso. O vice-presidente reforçou o agradecimento aos parceiros e à torcida.
“É até difícil explicar como conseguimos arcar com os custos da competição. Muitas pessoas ajudaram. Por exemplo, as transmissões na Goyta TV foram feitas inteiramente com doações dos torcedores. A partir disso entendemos a dimensão de tudo que aconteceu nesta temporada”, destacou.
Um caso marcante financeiramente, segundo Leandro, envolveu um borderô pago nos acréscimos por Carlos Darcileu Amaral, membro da diretoria.
“Um caso muito especial aconteceu quando nossa diretoria estava almoçando. Tínhamos um borderô para pagar às 14h e realizamos o pagamento às 13h59. O Carlos Darcileu Amaral assumiu a responsabilidade e quitou o valor. Guardamos esse recibo até hoje”, contou.
Dias melhores
Após resolver as questões jurídicas envolvendo a ex-diretoria encabeçada por Reinaldo Ribeiro Filho e Rodolfo Laterça, e com as eleições já realizadas, o clube agora mira fechar com investidores para 2026. Leandro afirmou que existem negociações avançadas.
“Estamos em conversa com um grupo, temos negociações avançadas. Inclusive conversei hoje (no dia da gravação) com eles. Não vamos deixar para 2026 não, esperamos resolver ainda neste ano e profissionalizar o futebol do Goytacaz”, revelou.
Torcida
O Goytacaz disputou a maior parte da Série B2 jogando com presença liberada apenas para mulheres e crianças no estádio, já que ainda cumpre uma punição aplicada em 2023. A partida contra o Macaé marcará o grande reencontro entre torcida e clube, algo que não acontece desde o fatídico episódio contra o Duque de Caxias.
Leandro Nunes agradeceu aos que estiveram presentes durante o torneio e descreveu como uma felicidade enorme esse reencontro.
“O Goytacaz tem algumas marcas, e uma delas é a nossa torcida. Tivemos as mulheres e crianças nos apoiando muito, mas foi triste não ter toda a massa. Foi triste porque a torcida é responsável por tudo isso que aconteceu no clube, foi um duro golpe. Mas agora é uma felicidade enorme poder ter todos aqui nesta final.”
Goytacaz e Macaé fazem o segundo jogo da final da Série B2 do Campeonato Carioca no próximo domingo, às 15h (de Brasília), no Aryzão, em Campos. Um novo empate levará a decisão para os pênaltis. Os ingressos estão esgotados.







