
Imagina ser confundido com criminosos e passar dez anos preso de forma errônea? Pois é, isso foi o que aconteceu com Everton Rodrigues da Silva, de 30 anos. Acusado de ser autor de um latrocínio na praia de Farol de São Thomé em 2014, Everton chegou a ser condenado a 22 anos de reclusão e foi transferido para o Complexo de Bangu. Após anos de luta, ele foi absolvido em junho de 2024 depois de revisão criminal.
Em conversa com a reportagem do Manchete RJ, Everton Rodrigues contou como tudo começou:
“Um dia após o crime, os policiais vieram aqui na minha casa com duas fotos, me perguntaram se eu conhecia essas pessoas e eu falei que não. Aí pediram pra tirar uma foto minha, como eu não devia nada, deixei e fiquei tranquilo. Após a fotografia, falaram que me reconheceram através de um vídeo e pediram pra eu ir até a delegacia. Eu fui com a cabeça em paz, pois sabia que no vídeo seria provado que não era eu”, começou.
O drama na vida de Everton começou após a ida à delegacia. Ao chegar no local, ele foi avisado que o vídeo sumiu, mas os agentes o tranquilizaram, dizendo que isso não seria problema:
“O vídeo sumiu, mas falaram que seria apresentado na audiência. Mas eu prestei meus esclarecimentos tranquilo e fui pra casa. Três dias depois, pediram pra eu ir até a delegacia, caso contrário, eu seria foragido. Aí, quando cheguei, foi feita uma prisão em flagrante. Após todos os ritos, fui condenado a 22 anos, 20 após a gente recorrer. Desde então, eu pensei em desistir. Meu mundo acabou, não pude ver o crescimento da minha filha e fiquei 9 anos sofrendo.”
Advogado encontra irregularidades e muda rumo do processo
Nesse período, Everton Rodrigues cumpriu a pena no Presídio Carlos Tinoco da Fonseca e no Complexo de Bangu. A história começou a mudar após o advogado de defesa, Patrick Benedito, entrar na jogada. Após insistência e comprovação de irregularidades no processo, Patrick conseguiu a revisão criminal.
“De acordo com os autos de prisão, Everton foi preso em flagrante, porém ele só foi detido três dias depois. Além disso, à época, as testemunhas eram dois menores e prestaram depoimento em sede policial, mas sem a presença de representantes legais. Anos depois, os meninos, agora maiores, foram presos e ficaram no mesmo pavilhão que o Everton. Após serem reconhecidos, eles resolveram contar a verdade e revelaram em depoimento que à época foram forçados a dizer que o executor era o Everton”, explicou.
Revisão criminal
Após coletar todas essas provas, foi feita a revisão criminal, que foi favorável para Everton. A decisão, proferida pelo 3º Grupo de Câmaras Criminais do TJ-RJ, contou com votação unânime e foi relatada pelo Desembargador Marcelo Castro Anátocles da Silva Ferreira.

“Uma revisão criminal para ser acolhida é quase impossível, imagina por unanimidade, e foi isso que aconteceu. Conseguimos isso e hoje o Everton pode viver a vida dele, mas infelizmente ele perdeu a juventude e o crescimento da filha”, disse Patrick.
Agora a defesa de Everton entrará ainda neste ano com uma ação indenizatória contra o Estado pelo período que ele ficou preso injustamente.
Vida nova
Após 10 anos preso, Everton conseguiu a liberdade neste ano, primeiro por meio da ‘saidinha’ e depois com a absolvição. Com uma filha de 9 anos de idade, ele afirma que renasceu:
“A sensação de sair daquele presídio foi como nascer de novo. Acabaram com a minha vida, fiquei preso injustamente, foi muito duro pra mim passar por isso. Mas hoje estou absolvido e com a cabeça em paz, mas sigo buscando justiça”, concluiu.