
Quando se pensa em avanço do mar no Norte Fluminense, grande parte da população reflete sobre a situação de Atafona, em São João da Barra, onde se registra a situação mais crítica até o momento. Porém, entre São Francisco de Itabapoana e Rio das Ostras, o litoral, com cerca de 200 km, tem 32% (um terço) em estado de erosão, ou seja, com praias perdendo areia. Por outro lado, 34% da linha da costa lida com o fenômeno oposto e mais seguro, a acreção, quando a praia cresce em direção ao mar.
O geógrafo marinho Eduardo Bulhões, que é pesquisador e professor da Universidade Federal Fluminense, explicou ao Manchete RJ que a erosão costeira em Atafona é um bom exemplo para ilustrar que existe uma combinação de fatores, de ordem natural e de origem humana, na configuração do problema que atinge o distrito há anos.
“Atafona é afetada pela ação direta do mar e do rio. Décadas e décadas de exploração econômica da bacia hidrográfica do rio desmataram suas margens, desviaram e consumiram suas águas. Há também, comprovadamente, uma intensificação das ondas e dos ventos na Bacia de Campos, tornando algumas áreas do litoral da região ainda mais vulneráveis. Por fim, houve o estabelecimento de uma ocupação urbana sobre áreas bem próximas à faixa de areia, o que completa esse cenário de destruição que todos conhecemos”, explicou Bulhões.
No que diz respeito ao fenômero, as principais localidades com problemas são Manguinho (SFI), Atafona e Açu (SJB), a área entre Lagamar e Barra do Furado (Campos), Praia da Fronteira (Macaé) e as praias da Tartaruga e Abricó (Rio das Ostras). Com relação à acreção costeira, ela ocorre nas praias de Santa Clara e Gargaú (SFI), Grussaí e Cantos das Pedras (SJB) e na praia de Barra do Furado (Quissamã). Ao analisar esse cenário, fica fácil entender que as areias que são erodidas e saem de uma praia acabam por ser transportadas e acumuladas em outras praias.
É possível Evitar?
Questionado sobre soluções que podem ser adotadas pelo poder público, Eduardo Bulhões diz que os esforços parecem bastante insuficientes.
“O poder público deve planejar antes de executar. Em problemas ambientais complexos como a erosão costeira, os esforços me parecem bastante insuficientes. Para citar um exemplo, desde 1988 temos um Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (Lei 7.661/88) e só em 2023 esse plano incorporou o controle da erosão costeira (Lei 14.714/23) como uma de suas diretrizes. Tarde demais, ao meu ver. Os municípios também têm a prerrogativa de criar seus planos e políticas públicas relacionadas ao tema, mas poucos fazem. Então, isso é dever de casa básico”, criticou o especialista.
O pesquisador finalizou dizendo que, na grande maioria dos casos, não há uma solução definitiva para a erosão costeira, e sim um conjunto de medidas que minimizem seus impactos hoje e no futuro.
“Quero dizer que apenas construir muro ou ‘jogar pedras’ não vai resolver. Precisamos de litorais resilientes e que possam se adaptar às condições incessantes do mar. Seguindo o protocolo, as chances de obter financiamento federal e êxito são maiores”, explicou Eduardo.
