
Se você passou algum tempo nas redes sociais nos últimos dias, provavelmente se deparou com vídeos , por vezes controversos, de “adoções” de bebês reborn. A prática, embora não seja nova, ganhou visibilidade recente com cerimônias simbólicas, certidões de nascimento fictícias e até casais discutindo guarda compartilhada dessas bonecas hiper-realistas.
Em Campos dos Goytacazes, o Hospital Renascer se destaca como uma verdadeira “maternidade reborn”. O espaço, na verdade, é um ateliê que produz bonecas com aparência extremamente semelhante à de recém-nascidos. Por trás de cada criação está um trabalho artesanal minucioso e cheio de sensibilidade, liderado pela artista Liana Soares Viana.
“Minha mãe queria muito ter um bebê reborn. Eu, na época, morava em Portugal, comecei a fazer cursos, fui me aperfeiçoando… Quando precisei voltar a Campos para cuidar dela, já estava mais experiente na técnica. Comecei a dar cursos e, hoje, muitas das minhas alunas também trabalham com reborn”, conta Liana, conhecida no meio como “cegonha” — apelido carinhoso dado às artistas reborn.

Além da aparência impressionante, os bebês reborn têm uma função que vai além do estético ou colecionável. Muitos deles são utilizados de forma terapêutica, especialmente por pacientes com Alzheimer, câncer, ou em tratamento de luto. “Cada bebê é único. Cada detalhe é pensado com muito carinho, porque sabemos que, para algumas pessoas, essas bonecas representam muito mais do que um brinquedo”, explica Liana.
A popularidade do reborn, no entanto, também gera discussões. A crescente exposição nas redes sociais, com vídeos que imitam partos, batizados e rotinas familiares com os bonecos, levanta debates sobre os limites entre arte, terapia e saúde mental. Psicólogos têm se debruçado sobre o fenômeno, buscando entender até que ponto a prática é benéfica — ou quando passa a sinalizar um possível desequilíbrio emocional.
A psicóloga Nilvia Coutinho, explica o limite entre o hábito saudável de colecionar e a ruptura com a realidade, quando como em alguns casos relatados na mídia, algumas pessoas começam a tratar as bonecas como se fossem humanas: “Um comportamento considerado incomum não significa necessariamente um transtorno mental. Tal análise só pode ser realizada considerando-se inúmeros outros elementos da história da mulher. No caso do transtorno mental, ele ocorrerá a partir do momento em que o objeto em questão seja a única fonte de investimento e troca afetiva, ou seja, quando o sujeito se afasta de vínculos e relações reais para se dedicar unicamente ao boneco. Na patologia, a pessoa pode centralizar toda a sua existência em torno dessa vivência, assim como, acreditar em algum momento que se trata de um ser humano e não de um brinquedo. Enquanto esse objeto exercer a função de diversão, e não atrapalhe os vínculos reais da mulher, pode no máximo ser considerado um passatempo atípico.”, destaca a psicóloga.

A origem do reborn
A técnica de transformação de bonecas simples em figuras hiper-realistas surgiu durante a Segunda Guerra Mundial. Mães e artesãs reformavam bonecas antigas, tentando restaurá-las ou deixá-las mais realistas como uma forma de afeto em tempos difíceis. A prática ganhou força nas décadas de 1980 e 1990, especialmente nos Estados Unidos e Europa, quando artistas passaram a usar materiais sofisticados e técnicas de pintura e escultura avançadas para alcançar resultados quase humanos.
No Brasil, o reborn tem crescido principalmente entre colecionadores, terapeutas e, mais recentemente, entusiastas nas redes sociais. O Hospital Renascer, em Campos, já recebeu encomendas de diversas regiões do país e oferece também cursos para quem deseja aprender a arte.
Confira o vídeo do Hospital Renascer no nosso Instagram: