
O jornalista Rogério Viduedo, que percorre o país de bicicleta para contar suas experiências, resolveu passar 10 dias em Campos dos Goytacazes para observar de perto o novo sistema de ciclofaixas do município. Em um longo relato, Rogério contou que tinha uma expectativa positiva quanto ao respeito ao ciclista, descreveu detalhes que chamaram sua atenção e revelou que, por pouco, a visita não virou saudade — após um quase acidente com um ônibus.

Quando cheguei à segunda cidade mais rica do Rio de Janeiro e vi aquela quantidade de ciclofaixas, imaginei que ali, sim, era um local que respeitava o ciclista trabalhador. Algumas ainda reluzentes de novas, outras nem tanto, as vias estão estendidas por algumas das principais ruas e avenidas de Campos dos Goytacazes”, começou o seu texto
A vinda do jornalista para desbravar as ciclofaixas da planície goitacá se deve muito também a uma Pesquisa Nacional sobre o Perfil do Ciclista Brasileiro 2024 onde apontou que 79,8% dos campistas usam bicicleta para trabalhar. Nos dias de estadia em Campos, Rogério chamou a atenção para alguns detalhes
Os 10 dias em que fiquei por lá me não foram suficientes para entender toda a dinâmica de quem pedala, mas deram uma boa perspectiva. É notória a quantidade de mulheres pedalando, mas são elas que mais usam bicicletas elétricas, dessas chinesas que têm pedal mas também têm acelerador. O fato da maioria dos pesquisados receber até 3 salários mínimos vai de encontro à minha percepção de não ter visto nenhuma bicicleta de marca famosa, só wendys, houstons e imitações de barra forte. Também vi muita gente freando com os pés, já que a inexistência de ladeiras dá essa brecha para economizar nas pastilhas e colocar mais comida na mesa”, explica.
A experiência em Campos por pouco não virou manchete, como ele mesmo revela:
Foi num giro digestivo pós-jantar nos arredores da minha hospedagem que quase virei saudade. Era uma noite quente e quis dar mais uma volta pelo centro. Resolvi pegar a ciclofaixa Quinze de Novembro, a avenida que margeia o rio. Ao chegar debaixo do viaduto Leonel Brizola, fiquei na dúvida se entrava à direita ou seguia em frente, o que me fez ficar confuso quanto à sinalização de trânsito. Entrei à direita, mas logo peguei o retorno ainda debaixo do viaduto e decidi voltar pela avenida, sem saber que lá do outro lado, um ônibus municipal vinha numa velocidade considerável e que ia cruzar a pista na minha direção. Ainda ecoa na minha cabeça o grito do motorista lá de dentro do ônibus, “ai meu Deus”.
Apesar do susto, não teve maiores confusões com o motorista
“Eu parei ali mesmo e ele passou na minha frente. Não me xingou, eu não xinguei, ele foi para um lado e eu, de cabeça baixa, me sentindo um inútil, pedindo desculpas. Dali voltei direto para o apartamento”.
Ele também deixou críticas a sinalização viária da cidade, a qual ele classificou como uma “catástrofe”
“E debaixo daquele viaduto onde é notório o conflito de carros, motos e ônibus com os pedestres e ciclistas, a sinalização viária é uma catástrofe. Mesmo de dia, é tudo mal iluminado e mal direcionado. As faixas de pedestre estão apagadas, não há semáforo para ciclista, deixando-os à mercê da própria sorte. Não é possível que um visitante morra atropelado por um ônibus por falta de um mísero sinal de trânsito ou um pouco de tinta no asfalto. Afinal, não basta esticar um monte de ciclofaixas se elas te induzem ao erro”, disse Rogério.
Por fim, o jornalista chegou a conclusão que a sinalização e as ciclofaixas foram feitas para quem conhece o município, e não para quem visita
E dá para entender o motivo (do quase acidente). A sinalização foi feita para quem já conhece a cidade. Eu notei que quase ninguém usa aquela ciclofaixa no sentido BR 101, só ao contrário; e pela manhã. À tarde, os trabalhadores saem do centro e já vão direto pela avenida, para pegar a ponte de ferro e cruzar o rio. Pela lógica da cidade, o errado era eu, o visitante”, concluiu.
O relato completo você poder ler AQUI.