
O blog do Rhyann Souza, no Manchete RJ, estreia neste domingo (1), uma série de entrevistas com personalidades que escrevem verdadeiramente a história do mundo esportivo. Jornalistas e atletas pedem passagem no site que mais cresce em todo o estado do Rio de Janeiro.
O primeiro entrevistado é o jornalista João Palomino, que falou sobre seu início no jornalismo esportivo, contando sua trajetória na televisão, passando pela Manchete, TV Cultura e pelos canais ESPN, onde assumiu o cargo de diretor em 2011 e se manteve até 2019. Palomino também abriu o jogo sobre o desentendimento com Trajano, demissões na ESPN e seu futuro no streaming. Confira a resenha que contou com a participação do amigo e jornalista João Balthazar.
Palomino, você tem uma trajetória de sucesso no jornalismo esportivo, mas todo começo é repleto de histórias boas e ruins. Como foi o seu início?
Todo início é sempre muito difícil. Se bem que eu comecei muito cedo. Com 14 anos, publiquei minha primeira matéria num jornal da cidade de Taquaritinga. Dali pra frente, percebi que havia encontrado minha grande paixão, o jornalismo esportivo. Foi quando mudei para Campinas para cursar a PUCCAMP. Tive de trabalhar para ajudar a pagar a faculdade. Foi bom ter conseguido emprego na área na época, na equipe de esporte do Diário do Povo, na revisão do mesmo jornal, e depois em emissoras de rádio locais.
Nessa nova safra de jornalistas, focando mais nos narradores e narradoras, quem mais te agrada?
Tem muita gente boa aparecendo. Acho bacana que é uma geração que já nasceu ouvindo grande nomes da narração na televisão, porque até bem pouco tempo as grandes referências eram do rádio, ou Luciano do Valle na TV, um dos mais completos, senão o mais completo, narrador que já ouvi. Um Pelé no que fazia. As mulheres estão ganhando espaço, o que é muito bom, e estão já conseguindo deixar os ouvidos dos telespectadores acostumados ao tom e ao ritmo. Uma pena a aposentadoria do Milton Leite, e destaco Gustavo Villani, Everaldo Marques e Rômulo Mendonça, cada qual com seu estilo, como os mais destacados no momento. Mas tem muita gente boa.
Hoje em dia a TV divide a atenção com canais que representam determinados times, comandados pelos famosos Youtubers. Como você avalia o trabalho que está sendo feito por eles?
São públicos diferentes. Os canais de torcedores ou jornalistas que dedicam toda atenção a um clube especificamente, ganha em projeção quando o assunto é notícia, bastidor. A transmissão ainda é um grande desafio para estes canais, porque os direitos são proibitivos e usam o sistema webradio. Funciona bem nos cortes para as redes sociais principalmente. Esse modelo não tem volta. O torcedor quer saber do time dele, na saúde ou na doença.
Recentemente, nomes históricos da comunicação esportiva infelizmente morreram, como Apolinho, Silvio Luiz e Antero Greco. Alguma boa história desses três pra contar?
Com os três, na verdade. Apolinho era um exímio contador de histórias. Às vezes o encontrava na lanchonete do antigo Maracanã. Um cara extremamente respeitado. Silvio, tive o prazer de participar do Bola da Vez em que ele foi convidado. Ele mudou ou criou uma forma de narração que hoje chamam de inovadora. Ele fazia isso há quarenta anos. Antero foi um dos caras mais gentis, amorosos e amigos que conheci. Fiquei uma semana com ele na Itália depois da Copa do Mundo da França, em 98. Ele foi um guia espetacular, não só pelo conhecimento de Roma e do país, mas por entender a alma romana como poucos. Sabia em cada esquina o que funcionava, o dono da pizzaria ou do café, como era a rotina e como era o atendimento. Um cara sensacional. Uma pena.
Em setembro de 2020 você criou a LiveSports, serviço de streaming esportivo. Como está sendo produzir conteúdos no mundo da internet? A linguagem é muito diferente da TV?
A linguagem na internet ganhou liberdade quase irresponsável. Mas estamos num momento de entender essa linguagem. A aceitação, a compreensão, a informação. Isso te da mais liberdade de criar, mas é preciso o uso do bom senso e do bom gosto. Nem tudo o que reluz é engraçado ou nos convence. Acredito que a pessoa que acompanha aquele nicho específico quer leveza, mas quer também respeito aquele esporte e informação.
Nas horas vagas, qual o programa que o Palomino gosta de assistir na TV ou na internet?
Dedico muito tempo à minha família. Isso consigo hoje, antes era impossível. E quando tenho tempo, assisto séries e documentários, jornalismo e esporte, não necessariamente futebol. Hoje consigo simplesmente assistir e é muito bom.
Por falar em TV, você foi um dos grandes responsáveis pela ESPN se tornar uma referência, mas ao mesmo tempo telespectadores questionavam algumas decisões envolvendo o conteúdo do canal, dizendo até que a ESPN tinha deixado de ser uma emissora “raiz”. Qual legado você acha que deixou para a emissora?
Foi uma mudança necessária e profunda. Ou a ESPN perderia relevância, profissionais e mercado. Conseguimos triplicar a audiência, lançamos novos valores, concentramos esforços em grandes eventos e preservamos a postura sempre crítica e contestadora. Primeiro, não concordo com a avaliação de que a emissora deixou de ser raiz. Os números e a percepção são outros. E o legado é de valorização das pessoas, valorização dos grande eventos, respeito aos profissionais e preservação da relevância.
Ainda falando sobre a ESPN, relações humanas de muitos anos podem causar certos atritos. Como se deu o desmentindo com Trajano? Vocês mantêm algum tipo de relação hoje em dia?
Não tenho hoje nenhum contato com o Trajano. Fui leal a ele durante 17 anos. Depois, ele escolheu o caminho dele, eu segui o meu. Renovei o contrato dele, fiz de tudo para que fosse mantido, mas a decisão da empresa foi pela saída dele em dado momento. Sempre desejei o melhor a ele. Isso posso controlar.
Outro assunto que deu o que falar foram as demissões de Alê Oliveira e Flávio Gomes. Olhando para o passado, algo poderia ter sido feito de maneira diferente em ambas as partes?
Cada caso foi um caso. As pessoas que participaram da decisão tiveram todas as razões pra isso. Nunca é um caso isolado. Mas faz muito tempo. Cada um seguiu seu caminho.
A ESPN transmitiu a última Copa do Mundo em 2014. O canal também perdeu os direitos da Champions League para o Esporte Interativo, hoje TNT Sports Brasil. Você acha que isso causou um certo desinteresse pelo canal?
Falei sobre a ESPN e sobre as decisões enquanto estive lá. Não acho correto analisar a emissora agora. E estou há bastante tempo afastado. Não tenho informação suficiente sobre a estratégia da empresa.
Voltando para o assunto futebolístico, você arriscaria os campeões da Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro e Libertadores de 2024?
Copa do Brasil – São Paulo; Libertadores – um brasileiro, Flamengo ou São Paulo; Brasileirão – Flamengo.
Como você avalia o início do trabalho do Dorival no comando da seleção brasileira?
É preciso dar tempo ao Dorival, é um cara que trabalha demais. Ele está aprendendo duramente que ser técnico da seleção é outro “bicho”, outro mundo. Vai ter de furar casca rápido porque essa cobrança é insana.
Na sua opinião, Neymar ainda será útil para a seleção?
Depende só do Neymar. O que ele quer da vida e como quer ser lembrado. Tem futebol pra fazer muito mais, precisa ver se terá condição física para tanto.
Se o Palomino de hoje pudesse se encontrar com o Palomino do passado, qual conselho daria?
Faça tudo igual. Porque tudo foi feito com discernimento, caráter, correção e respeito às pessoas. Só daria um único conselho: saiba quem ouvir, porque o interesse das pessoas varia conforme a conveniência. Nunca fui covarde. Nunca fugi das decisões ou dos problemas, mesmo quando me diziam respeito.