
As mulheres não tiveram espaço na política de Campos durante o mandato de 2020 a 2024, não por opção delas, mas porque nenhuma foi eleita para o poder executivo ou legislativo na eleição passada. Silenciadas nesses últimos quatro anos, o Manchete RJ ouviu cinco pré-candidatas à Câmara e Prefeitura para saber o real impacto dessa ausência.
A reportagem conversou com a Delegada Madeleine (União Brasil), Professora Natália (PSOL), Thamires Rangel (PMB), Odisseia (PT) e Josiane Morumbi (Podemos), que irão tentar mudar essa realidade em outubro. Todas tocaram em um ponto em comum: com nenhuma representante nas principais esferas neste período, a falta de políticas para as mulheres foi alarmante.
Delegada Madeleine (União Brasil)

“O machismo é o ponto nodal da violência doméstica no Brasil. Eu sou uma defensora da adoção de políticas públicas para efetivar na prática a legislação que garante a proteção às mulheres. A legislação sobre o tema surge em 1962, ganha mais ênfase com a Constituição de 1988 e tem uma nova dinâmica com a Lei Maria da Penha, que completou 18 anos. São leis que não podem ficar engessadas no papel”, enfatizou em fala no evento Mulheres Empreendedoras.
Professora Natália (PSOL)

“Não ter nenhuma representante nos espaços de poder, na verdade, está diretamente relacionado a menos políticas que vão impactar a vida das mulheres no sentido de atenuar o sofrimento ou a carga pesada do cuidado. É importante dizer que as mulheres se responsabilizam majoritariamente pelo cuidado. Ter representantes nesses espaços significa criar políticas que, na verdade, vão contemplar toda a sociedade, mas que vão pesar e pensar no direito à creche, na ampliação das vagas em escolas públicas, em creches, e em tempo integral para deixar os filhos e poder trabalhar também fora de casa. Estando dentro de casa, é trabalho, né? É sempre importante afirmar isso. Então, é pensar, por exemplo, em mamógrafos em todas as UBSs, é pensar na prevenção do câncer de mama e de útero, descentralizado no território, não apenas no centro da mulher, pensar em especialidades relativas à saúde da mulher, direitos reprodutivos, perto das casas dessas mulheres, e nas unidades básicas. Ter políticas feitas por mulheres é também garantir que elas chegarão até as mulheres. Não é possível pensar que as políticas feitas por homens contemplam toda a sociedade. Não, eles não sabem onde o calo aperta, não sabem onde dói, e isso faz toda a diferença. A gente sempre diz que não é mais possível fazer política sem a gente. Nós somos a maior parcela da população, mas o poder ainda está na mão deles, então é preciso repartir.”
Thamires Rangel (PMB)

“Durante o período de 2020 a 2024, a ausência de representatividade feminina na Câmara foi uma lacuna significativa que impactou diretamente as pautas e políticas voltadas para as mulheres. A falta de uma presença feminina resultou em uma carência de perspectivas e soluções adequadas para questões que afetam diretamente a vida das mulheres. Como jovem pré-candidata a vereadora em Campos dos Goytacazes, meu compromisso é não apenas preencher essa lacuna, mas também garantir que a voz feminina seja amplamente representada e ouvida, influenciando positivamente a elaboração de políticas públicas e atendendo às necessidades reais da nossa comunidade.”
Odisseia (PT)

“Quando falamos da falta de mulheres na política campista, falamos também da falta de pensar política com um olhar voltado para os mais vulneráveis, para a cidade como um todo. Em Campos há uma deficiência enorme de transporte público, e o abismo é ainda maior quando falamos dos ônibus exclusivos para mulheres. Em 2009, tivemos o terrível caso das Meninas de Guarus, mas com o trabalho de vereadoras mulheres, levamos para Brasília e para a Alerj. A Comissão de Direitos abraçou a causa, culminando na prisão de 12 pessoas. As parlamentares já trouxeram a Ministra das Mulheres, Nilcea Freire, aqui, e, junto com o movimento feminista e de mulheres, trouxemos a DEAM para Campos. Esses são apenas três exemplos de como mulheres em todas as esferas de poder são fundamentais, mas é preciso optar por pessoas comprometidas com as causas da população.”
Josiane Morumbi (Podemos)

“A pouca representatividade da mulher no ambiente político tem vários obstáculos a serem vencidos diariamente, como a violência política de gênero, discriminação, violação de nossos direitos e falta de apoio dos partidos políticos. Eles precisam respeitar os avanços já conquistados; os recursos destinados pela Justiça Eleitoral às campanhas de mulheres devem ser usados em nosso interesse. Apesar de as mulheres constituírem a maioria tanto na população em geral (52%) quanto no eleitorado (aproximadamente 53%), os filiados aos partidos políticos são predominantemente do gênero masculino. Não encontramos igualdade de gênero na política, e apenas 12% dos municípios do país têm mulheres ocupando cargos de prefeitura. Para além das barreiras históricas para se eleger, quando as mulheres chegam ao poder, elas ainda enfrentam muitas dificuldades para manter os cargos conquistados – simplesmente por serem mulheres.”