
Para muitos, o 2 de março é apenas mais um dia qualquer, mas para a família de Letycia Peixoto Fonseca, a data marca uma ferida que ficará para sempre. Hoje completa-se um ano do crime que chocou o país. Letycia, que estava grávida de oito meses, foi assassinada a tiros dentro de um carro. Após um parto emergencial, seu filho Hugo foi resgatado com vida, mas não resistiu e morreu no dia seguinte. Após o crime, quatro pessoas foram presas e a Polícia Civil encerrou o inquérito, mas o caso ainda corre na justiça.

Ainda em busca de justiça, a família de Letycia convocou a população campista para um ato no chafariz da Praça São Salvador, em Campos, neste sábado (2). “No meu coração, nada mais será igual”, afirmou a mãe da vítima, que corriqueiramente veste uma blusa que estampa um pedido: ‘justiça por Letycia e Hugo’.

O feminicídio
Letycia Peixoto, de 31 anos, estava dentro do carro com uma tia portadora de síndrome de Down, no Parque Aurora, em Campos, conversando com sua mãe, Cintia Pessanha Peixoto Fonseca, que estava fora do veículo. Em um determinado momento, dois homens de moto chegaram ao local e dispararam cinco tiros contra ela, atingindo a face, o ombro, a mão esquerda e o tórax.
A gestante foi atendida com vida, mas morreu logo ao chegar no Hospital Ferreira Machado. Um parto foi feito às pressas para tentar salvar o pequeno Hugo, mas ele também não resistiu ao crime bárbaro.
Em um ato de bravura, Cintia chegou a ir pra cima dos criminosos armados e foi atingida na perna esquerda. Apesar do ferimento, ela recebeu atendimento no hospital e acabou sendo liberada logo em seguida. A tia não recebeu nenhum disparo.

Presos
Um ano após o caso, quatro pessoas continuam presas, uma delas em prisão domiciliar. O acusado de ser mandante do feminicídio e os executores estão presos de forma preventiva. Os envolvidos receberam R$ 5 mil a serem divididos em quatro partes iguais para realizarem o crime.
Confira a lista dos presos:
- Diogo Viola de Nadai: é apontado pelo inquérito da Polícia Civil como autor intelectual e mandante do feminicídio da companheira Letycia Peixoto Fonseca.
- Outros dois suspeitos presos seriam os executores, identificados como Dayson e Fabiano.
- Gabriel Machado: teria sido o intermediário entre os executores e o mandante. Ele está em prisão domiciliar, que foi determinada pela Justiça pois ele tem dois filhos com problemas de saúde.
Quem é Diogo?
Apontado como mandante do crime, Diogo Viola de Nadai tem 41 anos, é natural do Espírito Santo, é professor do Instituto Federal Fluminense (IFF) e proprietário de uma loja de calçados em um shopping de Campos. Também é conhecido como jogador de pôquer.

Relação Diogo e Letycia
O relacionamento entre Letycia e Diogo era conturbado, pois o professor era casado. Uma tia da vítima contou à polícia que a sobrinha falava pouco sobre o namoro com o professor, por se sentir envergonhada com a situação de estar vivendo com um homem que ainda era comprometido, embora ele garantisse que estava separado da mulher.

O casal se conheceu há cerca de oito anos, quando Letycia estudava no IFF, onde Diogo trabalha. Em 2019, o professor disse que havia se separado, mas nunca teria permitido que a vítima conhecesse a sua família. Os dois passaram a morar juntos, mas Diogo tinha como hábito deixá-la sozinha sob pretexto de viajar, disse a tia à polícia. Ela afirmou que o professor “sumia por uma ou duas semanas”. Letycia chegou a desmanchar o namoro após um aborto no ano de 2018 por problemas de saúde.
Outro casamento
De acordo com a polícia, Diogo era casado legalmente desde 2010 com outra mulher e se relacionava há pelo menos 8 anos com Letycia. A delegada disse, ainda, que nem a mulher com quem Diogo é casado nem Letycia sabiam da existência uma da outra.
As investigações apontaram que quando Diogo precisava justificar a ausência com a esposa, ele dizia que estava dormindo na clínica de tratamento para depressão ou que estava em lugares jogando pôquer.
Já para Letycia, além de dizer o mesmo, afirmava que estava viajando para visitar parentes fora de Campos dos Goytacazes e até fora do país.
Motivação do crime
O inquérito da Polícia Civil, que foi encerrado um mês depois do crime. A delegada responsável pelo caso, Natália Patrão, revelou que o professor Diogo Viola de Nadai temia que o relacionamento dele com a Letycia viesse à tona com o nascimento do bebê Hugo.

Para o promotor do caso, Fabiano Rangel, Diogo, que era professor do Instituto Federal Fluminense (IFF), via o casamento com a esposa como “algo sagrado e nada poderia ameaçar isso”.
Panorama atual
A audiência, onde todas as testemunhas do caso foram ouvidas, terminou no dia 12 de julho. Nesta semana foi informado que os acusados vão a júri popular, com data a marcar. A sentença dos acusados ainda não foi definida.
Diogo está respondendo por homicídio qualificado (parágrafo 2º do artigo 121 do código penal) de Letycia, cometido mediante paga ou promessa de recompensa (inciso I); por motivo fútil (inciso II); através de emboscada, ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima (inciso IV).
Diogo também responde por feminicídio, com um agravante: crime cometido durante a gestação – o que pode aumentar a pena. A pena prevista é de reclusão, de 12 a 30 anos.
O professor universitário vai a júri também pelo homicídio qualificado do bebê Hugo, nos incisos I e IV, com um agravante: ser o pai da vítima. Ele também é reu pela tentativa de homicídio de Cintia Fonseca, mãe de Letycia, que estava no local no momento da execução.