
Bicheiros do Rio de Janeiro são acusados de envolvimento no assassinato do empresário goiano Bruno Vinícius Nazon de Moraes, de 30 anos. A vítima foi morta a tiros no dia 12 de fevereiro de 2021 por dois homens encapuzados na Avenida Litorânea, em São Luís, no Maranhão.
O mercado de apostas esportivas e disputas pelo jogo do bicho da região foram as motivações do crime, segundo a Polícia Civil e o Ministério Público do Maranhão (MPMA). O caso está na Justiça do estado nordestino.
Segundo a investigação, o crime foi encomendado por Márcio Augusto Guedes Gregório, conhecido como Márcio Careca. Ele é gerente no estado nordestino da ParaTodos Rio – como o grupo de contraventores do Rio é conhecido no mundo do jogo ilegal.
De acordo com o MP, Bruno de Moraes foi até o Maranhão para divulgar na comunidade local dois sites de apostas em jogos de futebol que pertencia ao grupo dele. Os promotores apuraram que a disputa pelo mercado desagradou o grupo do Rio, que se apresentou como responsável pelo jogo no estado: bicho, caça-níquel e apostas.
“O motivo do crime seria o fato de a vítima ter dois sites de apostas de jogos de futebol, Bets e Gol’ bem como trabalhar com o jogo do bicho”, diz a denúncia do MPMA.
As investigações mostram que os contraventores do Rio gerenciavam operações do jogo ilegal em São Luís por meio de Márcio Careca.
Ainda de acordo com a investigação, Careca contratou dois matadores de aluguel do Rio para cometer o crime: José Gomes da Rocha Neto, o Kiko, e Alfredo dos Santos Júnior, o Velho – ambos são considerados foragidos pela Justiça.
Entenda a disputa do jogo do bicho
Os investigadores dizem que Márcio Careca, gerente da banca ParaTodos Rio no Maranhão, disputava a exploração do jogo do bicho no estado com a banca chefiada por Bruno Moraes, de Goiás. Com o conflito, Careca “sugeriu” que seu rival encerrasse a atuação em São Luís, mas Bruno não aceitou, aponta o inquérito.
No dia 9 de fevereiro de 2021, segundo as investigações, Careca começou a planejar o crime, que terminou com o assassinato de Bruno três dias depois, em 12 de fevereiro.
Sete pessoas são rés na Justiça do Maranhão. Seis deles respondem em liberdade por homicídio doloso duplamente qualificado e participação na contravenção, e um responde só pela contravenção.
Se condenados, as penas pelo assassinato variam de 6 a 20 anos de prisão, podendo aumentar por ser considerada por ter ocorrido por um motivo torpe e sem possibilidade de defesa do empresário. A participação na contravenção pode atingir até 5 anos de prisão.
A seguir, os réus no processo:
- Márcio Augusto Guedes Gregório, o Márcio Careca
- José Gomes da Rocha Neto, o Kiko
- Alfredo dos Santos Júnior, o Velho
- José Martins dos Santos, o Baiano
- Thiago Rodrigues da Rocha Nunes, o SD Nunes
- José de Ribamar Sodré Veloso
- Gilderlene Lopes Machado (responde apenas pela contravenção)
Três deles (Márcio Careca, Baiano, SD Nunes) chegaram a ser presos, mas obtiveram decisões judiciais e respondem a ação em liberdade.
Como não foram presos até o momento, Kiko e Velho tiveram o processo desmembrado para que não paralisasse a ação contra os outros envolvidos. Respondem pelo crime em um processo próprio e ainda são procurados pela Justiça.
Como eram feitas as apostas
Os apostadores podiam dar seus palpites, seja para o jogo do bicho ou para apostas de futebol, de forma presencial ou on-line.
Uma testemunha ouvida na investigação afirmou que a banca ParaTodos Rio tinha mais de 80 pontos de apostas espalhados por toda a cidade de São Luís.
Gilderlene Lopes, dona de uma das bancas, disse que arrecadava cerca de 15% de cada aposta feita em jogos de futebol (Bets). Ela foi denunciada como integrante da ParaTodos Rio no controle do jogo do bicho no estado.
Os sites de apostas “Bets” e “Gol” que Bruno tentou implantar no Maranhão não são encontrados na rede. Pessoas ouvidas pela reportagem acreditam que as páginas tenham sido retiradas do ar com o assassinato do empresário goiano.
A “Look”, empresa da qual Bruno era gerente em Goiás ainda se mantém ativa.
Os investigadores afirmam ainda que havia um grupo chamado de Bonde do Barão, que tinha a função de intimidar e agredir integrantes de bancas rivais.
O bonde era composto por integrantes das forças de segurança do Maranhão que foram corrompidos, segundo a denúncia.
Conheça todos os envolvidos no crime:
Marcio Augusto Guedes Gregório, o Márcio Careca
Márcio Careca é acusado de ser o gerente da banca de jogo do bicho ParaTodos e apontado como mandante do crime.
A investigação mostra que, após chegar a São Luís, Bruno de Moraes começou a recrutar operadores que trabalhavam para Careca, que decidiu, então, arquitetar o assassinato.
Quando foi preso, Márcio Careca confirmou ser o gerente da banca do Rio que atuava no Maranhão, mas negou participação no homicídio.
Alfredo dos Santos Júnior, o Velho
Alfredo é um ex-policial militar do Rio de Janeiro. Ele já foi preso por suspeita de cometer um homicídio em 2012, mas conseguiu um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça e depois foi inocentado.
Apesar da absolvição pelo assassinato, Velho, como é conhecido, foi condenado em 2019 por porte ilegal de armas de uso restrito, após apreensão da Delegacia de Homicídios da Capital, pelo crime de 2012.
“Eles [Velho e Kiko] fizeram parte da vigilância contra os alvos. Conseguimos descobrir isso sabendo a localização que eles estavam no momento do crime”, explicou o delegado Alexandre Herdy, que participou da investigação na época.
A condenação motivou a abertura de um processo disciplinar na Polícia Militar. Em maio de 2023, Velho foi demitido da corporação à revelia – já estava foragido e não participou do processo.
O ex-policial é procurado pelo crime na região litorânea de São Luís. Contra ele, há um mandado expedido pela 3ª Câmara Criminal do TJ do Maranhão.
José Gomes da Rocha Neto, o Kiko